A maioria das pessoas encara o banco como o lugar mais seguro para guardar o dinheiro. É nele que chegam salários, ficam guardadas reservas de emergência, são feitos pagamentos e até investimentos. Mas, como qualquer empresa, um banco também pode falir. E quando isso acontece, surge a dúvida: o que acontece com o dinheiro do cliente?
Bancos realmente podem falir?
Apesar de parecer improvável, bancos podem sim quebrar. Existem diferentes motivos que podem levar uma instituição financeira à falência. Entre eles, estão a má administração, a concessão de muitos empréstimos para clientes que não pagam, crises econômicas que afetam a liquidez, ou até mesmo fraudes internas.
No Brasil, quando um banco apresenta risco de insolvência, o Banco Central pode intervir. Essa intervenção pode acontecer de duas formas: tentar salvar a instituição por meio de fusão, venda ou injeção de capital, ou decretar a liquidação, encerrando de vez as atividades. É nesse último caso que a situação dos correntistas se torna delicada.

O que acontece com o dinheiro do correntista?
Se o banco entra em processo de falência, o dinheiro que os clientes possuem em conta corrente, poupança e em determinados investimentos bancários não desaparece automaticamente. Existe uma proteção chamada Fundo Garantidor de Créditos (FGC), que atua como uma rede de segurança para os clientes.
Como funciona o Fundo Garantidor de Créditos (FGC)?
O FGC é mantido pelos próprios bancos e autorizado pelo Banco Central. Ele funciona como uma espécie de seguro, garantindo que, caso a instituição financeira quebre, o correntista possa receber de volta parte de seu dinheiro.
A regra atual é a seguinte: o FGC devolve até R$ 250 mil por CPF e por instituição financeira, com um limite global de R$ 1 milhão a cada quatro anos.
Na prática, isso significa que se um cliente tiver até R$ 250 mil em uma instituição bancária, o valor será ressarcido integralmente. Mas, se tiver mais do que isso, o excedente pode não ser recuperado.
Exemplos práticos
Se uma pessoa possui R$ 200 mil em um banco que quebrou, ela recebe os R$ 200 mil de volta pelo FGC. Mas se essa mesma pessoa tinha R$ 400 mil, apenas R$ 250 mil estão garantidos. Os R$ 150 mil restantes entram no processo de liquidação, e a devolução desse valor depende do andamento da falência, o que pode levar anos e nem sempre resulta no pagamento integral.
Se o mesmo cliente tivesse dividido o dinheiro em dois bancos diferentes, R$ 200 mil em cada um, estaria totalmente protegido, já que o FGC cobre até R$ 250 mil em cada instituição.
Quais investimentos estão cobertos pelo FGC?
O FGC cobre contas correntes, poupança e alguns produtos de renda fixa oferecidos diretamente pelos bancos. Entre eles estão:
- CDBs (Certificados de Depósito Bancário);
- LCIs (Letras de Crédito Imobiliário);
- LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio);
- LCs (Letras de Câmbio);
- RDBs (Recibos de Depósito Bancário).
Esses produtos são protegidos justamente porque fazem parte da forma como os bancos captam dinheiro no mercado.
O que não é protegido pelo FGC?
É importante destacar que nem todo investimento tem cobertura do FGC. Não estão incluídos:
- Fundos de investimento (ações, multimercado, renda fixa, cambial, entre outros);
- Previdência privada (PGBL e VGBL);
- Ações de empresas e ETFs;
- Debêntures;
- Criptomoedas;
- Tesouro Direto.
No caso dos fundos de investimento e ações, o dinheiro não pertence diretamente ao banco, mas sim ao cliente, que mantém os ativos em custódia. Já no Tesouro Direto, a garantia é do Governo Federal e não depende da saúde financeira do banco.
E se eu tiver mais do que R$ 250 mil em um único banco?
Esse é o ponto mais delicado. Valores acima do limite de R$ 250 mil por instituição não estão totalmente protegidos. Caso a instituição quebre, o cliente se torna um credor comum no processo de falência. Isso significa que o dinheiro acima do limite pode ser recuperado parcialmente ou até nunca ser devolvido, dependendo da situação da liquidação.
Por isso, especialistas sempre recomendam diversificação. Quem possui patrimônio acima do limite do FGC deve distribuir os valores em diferentes instituições financeiras para garantir maior segurança.
Como se proteger de uma falência bancária?
A primeira medida é a diversificação. Nunca concentre grandes valores em um único banco. Distribuir o dinheiro entre diferentes instituições é a forma mais simples de ampliar a cobertura do FGC.
Também é essencial respeitar o limite de R$ 250 mil por banco. Se você tem, por exemplo, R$ 500 mil para aplicar, pode dividir esse valor entre duas instituições, ficando totalmente protegido.
Outra estratégia é preferir bancos maiores e com histórico sólido, já que, embora nenhum esteja totalmente livre de riscos, as grandes instituições tendem a ter mais chances de serem socorridas pelo governo ou adquiridas por outros bancos antes de uma falência completa.
Por fim, é fundamental entender os investimentos escolhidos. Saber quais produtos têm cobertura do FGC e quais não têm ajuda a tomar decisões mais seguras. Para reservas de emergência, por exemplo, aplicações cobertas pelo FGC são a melhor escolha. Já para diversificação e busca de maiores retornos, fundos e títulos públicos podem ser boas opções.
Conclusão
Se um banco falir, o cliente não perde automaticamente todo o seu dinheiro. Graças ao Fundo Garantidor de Créditos, valores de até R$ 250 mil por CPF e por instituição estão protegidos. No entanto, quem concentra valores acima desse limite em apenas um banco corre o risco de perder parte do patrimônio.
A lição que fica é clara: segurança financeira depende de diversificação e informação. Espalhar o dinheiro em diferentes bancos, respeitar os limites do FGC e entender a natureza de cada investimento são atitudes que fazem toda a diferença na hora de proteger seu patrimônio diante da possibilidade de uma falência bancária.