O Fim da LG no Mercado de Celulares: Entenda o Que Realmente Aconteceu!

Poucas histórias na indústria de tecnologia são tão emblemáticas quanto a da LG no setor de celulares. A empresa sul-coreana, que já esteve entre as maiores fabricantes do mundo e conquistou consumidores com designs ousados e ideias futuristas, acabou encerrando sua divisão de smartphones em 2021. O anúncio chocou os fãs, mas foi apenas o desfecho de uma trajetória marcada por grandes acertos, erros irreparáveis e uma concorrência implacável.

Para compreender como uma marca que já foi referência global decidiu abandonar de vez o mercado, é necessário revisitar seus anos de glória, os momentos de crise e os experimentos ousados que, no fim, não conseguiram salvar sua participação no setor.

O início de tudo

Muito antes do Android existir, a LG já demonstrava que não queria ser apenas mais uma no mercado de celulares. Em meados dos anos 2000, quando Nokia e Motorola ainda dominavam o setor, a empresa buscava se destacar apostando em design e estilo de vida. O LG Chocolate, lançado em 2006, foi um marco nesse sentido. Seu formato slider, acabamento sofisticado e interface sensível ao toque davam a ele uma aura de exclusividade. Não era apenas um telefone, mas um acessório de moda que aparecia em comerciais glamorosos e era associado a sofisticação e elegância.

Na sequência veio o LG Shine, que reforçava essa identidade premium. Com corpo metálico espelhado, se tornou um dos celulares mais chamativos de sua época, simbolizando status e inovação. Já em 2009, o LG Cookie popularizou as telas sensíveis ao toque em um momento em que o iPhone ainda era inacessível para grande parte do público. Ele democratizou o conceito de smartphone para as massas, tornando a experiência touchscreen algo próximo e não mais distante.

Esses modelos consolidaram a reputação da LG como uma empresa criativa, capaz de aliar estética e tecnologia. Essa visão foi essencial para que a marca conseguisse migrar com força para a era dos smartphones Android.

O salto para o Android e os primeiros sucessos

Quando o Android começou a ganhar tração no fim dos anos 2000, a LG foi uma das primeiras a apostar na plataforma. O LG Optimus One, lançado em 2010, foi um fenômeno de vendas, alcançando milhões de unidades e se tornando um dos principais responsáveis pela popularização do sistema operacional em países emergentes como Brasil e Índia.

Pouco depois, a empresa mostrou que não queria apenas seguir tendências, mas liderá-las. Em 2011, apresentou o LG Optimus 2X, o primeiro smartphone do mundo equipado com processador dual-core. A inovação garantia desempenho superior em jogos e multitarefa, em um momento em que os concorrentes ainda usavam chips de núcleo único.

Esses movimentos posicionaram a LG como uma das marcas mais relevantes da primeira fase do Android. Ela era vista não apenas como competitiva, mas também como ousada o suficiente para experimentar antes dos rivais.

O auge da marca

A consagração veio em 2013 com o LG G2, considerado até hoje um dos melhores smartphones já lançados pela empresa. Seu design surpreendeu ao reposicionar os botões físicos para a traseira, eliminando as bordas frontais e abrindo espaço para uma tela de 5,2 polegadas quase sem molduras — algo impensável para a época. O aparelho também se destacava pela autonomia de bateria, fluidez do processador Snapdragon 800 e uma câmera competente que rivalizava com os melhores da época.

Em 2014, o LG G3 consolidou ainda mais esse protagonismo. Ele foi o primeiro smartphone amplamente comercializado com tela Quad HD, oferecendo uma definição quatro vezes maior que a de aparelhos Full HD. A câmera ganhou foco automático a laser, tecnologia avançada que melhorava a nitidez em ambientes de pouca luz. Nesse momento, a LG era vista como a fabricante que ousava inovar em aspectos que outras marcas só incorporariam anos depois.

Esse período é considerado a era de ouro da LG no setor mobile. A empresa conseguia competir diretamente com a Samsung e, em muitos aspectos, até superava os iPhones em termos de recursos tecnológicos.

O início da crise

O sucesso, no entanto, começou a desmoronar em 2015 com o LG G4. O aparelho trouxe design sofisticado, com opção de traseira em couro legítimo, além de uma das melhores câmeras do mercado. Mas um defeito crônico, conhecido como “bootloop”, arruinou sua reputação. Milhares de unidades apresentaram falhas que faziam o aparelho reiniciar infinitamente, tornando-o inutilizável.

Esse problema levou a processos judiciais contra a LG e gerou enorme desconfiança nos consumidores. A percepção de que os aparelhos da marca não eram confiáveis se espalhou rapidamente e comprometeu anos de trabalho para construir uma base sólida de fãs.

A ousadia que virou fracasso

Em 2016, a LG decidiu apostar todas as fichas em um conceito revolucionário. O LG G5 foi lançado como o primeiro smartphone modular de grande escala, permitindo que o usuário trocasse a parte inferior do aparelho para acoplar acessórios como baterias extras, câmeras especiais e módulos de áudio Hi-Fi.

Na teoria, era uma ideia brilhante, capaz de transformar o celular em uma plataforma expansível. Na prática, os módulos eram caros, difíceis de encontrar e pouco práticos. Além disso, o design removível comprometia a robustez do aparelho. O resultado foi um fracasso comercial que custou caro à LG, que nunca mais conseguiu se recuperar totalmente.

Tentativas de recuperação

Nos anos seguintes, a LG tentou reconquistar o público com aparelhos mais tradicionais. O LG G6, lançado em 2017, abandonou o conceito modular e apostou em uma tela com proporção 18:9, pioneira na época e que depois se tornou padrão na indústria. Apesar disso, o hardware já estava defasado no lançamento, o que minou suas chances de sucesso.

O LG G7 ThinQ, de 2018, tentou competir diretamente com a linha Galaxy S e trouxe novidades como a tela Super Bright, capaz de atingir brilho extremo para uso sob luz solar, e um sistema de áudio Boombox que transformava a carcaça em uma espécie de caixa de ressonância. Apesar da qualidade técnica, o aparelho foi ofuscado por rivais mais populares e não teve grande impacto comercial.

Paralelamente, a LG investia na linha V, voltada para entusiastas de áudio e vídeo. Modelos como o V10 e V20 trouxeram telas secundárias para atalhos e notificações, áudio em alta fidelidade e câmeras de qualidade. Embora fossem bem avaliados pela crítica, nunca alcançaram grande público.

A fase final:

Nos últimos anos de sua divisão mobile, a LG decidiu arriscar em formatos diferentes na tentativa de se diferenciar. O LG Velvet, lançado em 2020, trouxe um design refinado, com linhas curvas e acabamento premium, em uma tentativa de reposicionar a marca no mercado intermediário premium. Apesar da boa recepção estética, o aparelho não teve vendas expressivas.

Ainda mais ousado foi o LG Wing, também de 2020. Ele possuía uma tela principal giratória em formato de “T”, revelando uma segunda tela menor para multitarefa. O modelo foi elogiado pela criatividade e inovação, mas acabou sendo visto como um experimento sem aplicação prática real.

A LG também chegou a apresentar protótipos de celulares com tela enrolável, mas nunca chegou a lançá-los oficialmente devido ao encerramento da divisão.

O anúncio do fim:

Em abril de 2021, a LG anunciou oficialmente sua saída do mercado de smartphones. A decisão veio após anos de prejuízos acumulados, baixa participação de mercado e incapacidade de competir com gigantes como Samsung, Apple e as chinesas Xiaomi e Huawei. A empresa declarou que passaria a concentrar esforços em áreas mais lucrativas, como eletrodomésticos inteligentes, TVs OLED e soluções para veículos elétricos.

O anúncio foi recebido com tristeza por fãs que ainda lembravam dos grandes momentos da LG Mobile, mas também com certo alívio por parte dos analistas, que já viam a decisão como inevitável diante da sequência de fracassos.

O legado da LG no mundo dos celulares

Apesar do final melancólico, a LG deixou uma marca profunda na história da indústria mobile. Foi uma das primeiras a apostar em telas sem bordas, introduziu câmeras duplas quando isso ainda era raro, levou telas Quad HD para o grande público e experimentou conceitos que só anos depois seriam explorados por outras marcas.

Seus erros foram tantos quanto seus acertos, mas sua ousadia em experimentar sempre foi reconhecida. A LG não teve medo de arriscar, mesmo que muitas vezes isso custasse caro.

Considerações finais

A trajetória da LG no mercado de smartphones é um exemplo claro de como inovação, sozinha, não garante sucesso. A empresa foi pioneira em diversas frentes, entregou aparelhos memoráveis e ousou como poucas no setor. No entanto, falhou em consistência, confiabilidade e estratégia de mercado, abrindo espaço para concorrentes mais agressivos e melhor alinhados às necessidades dos consumidores.

Hoje, a LG segue forte em outros segmentos da tecnologia, mas sua história no setor mobile permanece como uma lição para toda a indústria: ser inovador é importante, mas no mundo dos smartphones, é preciso também ser consistente, confiável e competitivo em preço e experiência. O legado da LG será sempre lembrado como o de uma empresa que ousou demais, mas que não conseguiu transformar sua ousadia em liderança duradoura.

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